Há duas décadas, entre 27 e 28 de março de 2004, o Brasil, em especial o Sul de Santa Catarina e o Litoral Norte do Rio Grande do Sul, testemunharam um evento meteorológico de grande proporção e sem precedentes: o Furacão Catarina. Este fenômeno meteorológico deixou uma marca na história brasileira e, 20 anos depois, é hora de refletir sobre o impacto e as lições aprendidas com esse evento inédito.
O Furacão Catarina foi o primeiro e até agora único furacão a ser oficialmente registrado no Atlântico Sul. Sua formação e trajetória desafiaram a todos, desde especialistas, autoridades do Governo Federal e Estadual, técnicos e, principalmente, a própria população.
Era madrugada de sexta-feira, 27 de março, para sábado, 28 de março de 2004, quando o Furacão Catarina atingiu a costa sul do Brasil, causando danos significativos para a região Sul catarinense e o Litoral Norte do estado gaúcho.
De acordo com a equipe de meteorologia da Secretaria de Estado da Proteção e Defesa Civil de Santa Catarina (SDC), o furacão provocou ventos de até 180 km/h na região continental de Balneário Arroio do Silva, e fortes chuvas, deixando um rastro de destruição em sua passagem.
Na época, 11 pessoas morreram, 14 municípios decretaram situação de Estado de Calamidade Pública e sete decretaram Situação de Emergência. Além disso, segundo dados do Banco Mundial e do Centro de Estudos e Pesquisas em Engenharia e Defesa Civil (CEPED UFSC), 250 mil pessoas foram afetadas, 26.443 desabrigados e desalojados, caracterizando 211,4 milhões de danos e prejuízos.
Investimentos depois do Furacão Catarina
O impacto do Furacão Catarina não se limitou apenas aos danos materiais. Esse evento também destacou a necessidade de melhor compreensão e preparação para fenômenos meteorológicos extremos em Santa Catarina, já que não havia estrutura de Estado preparada para atender o ocorrido.
“Tanto o Furacão Catarina em 2004, quanto o desastre do Morro do Baú em 2008, foram, sem dúvida nenhuma, os grandes responsáveis por toda reestruturação da Secretaria a partir de 2011, como antena para receber imagens de satélite, cobertura de 100% do território catarinense com radares, profissionais trabalhando 24 horas por dia, sete dias na semana”, destacou coronel Fabiano de Souza, secretário de Estado da Proteção e Defesa Civil.
Atualmente, o Centro Integrado De Gerenciamento De Riscos e Desastres (Cigerd) da SDC está equipado e preparado para fornecer os dados que forem necessários em caso de outro fenômeno meteorológico extremo. “A Secretaria possui condições de fazer toda observação do fenômeno, o acompanhamento, emitir os alertas antecipados à população e fazer uma preparação adequada à resposta em referência de todo dano que poderia ser causado”, declarou.
O nome do furacão
Na América Central e na América do Norte, o fenômeno furacão é algo frequente, por isso os norte-americanos seguem uma sequência e escala com regras para nomear tempestades. Essas regras, na época, não valiam por aqui. Por isso, dar nome ao fenômeno que atingiria o Sul catarinense em março de 2004 ficou a cargo da equipe de meteorologia da Epagri/Ciram que nomeou o Catarina. A lista de possíveis nomes foi variada. Mas como a trajetória do furacão seguiria o Litoral de Santa Catarina, a equipe limitou as possibilidades a duas: Anita ou Catarina.
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Defesa Civil antes e depois
A Defesa Civil em Santa Catarina foi oficialmente estabelecida e organizada em 1973, no governo de Colombo Machado Salles, por meio da Lei nº 4.841. Foi apenas em 2011, no entanto, que a Defesa Civil ganhou, por meio de uma lei complementar, seu status de Secretaria de Estado. “Após um grande evento climático, de chuvas e enchentes em 2008, foi montado um grupo técnico, que estudou as ações a serem realizadas em 2009 e 2010. A elevação [do status] foi fruto do ocorrido em 2008 e desses estudos técnicos”, explica o secretário de Estado da Proteção e Defesa Civil de Santa Catarina, Fabiano de Souza.
Segundo o secretário, a Defesa Civil atual é resultado dessa reforma administrativa e de uma reformulação do Sistema Estadual de Proteção e Defesa Civil, por meio de legislações posteriores. Mas para ele, o Furacão Catarina, em 2004, já demonstrava a necessidade de instrumentalização mais tecnológica e de técnicos mais capacitados para prever fenômenos como esse. “Santa Catarina foi alertada em 2004 por agências externas. Hoje temos uma capacidade bem maior, inclusive avisando outros estados de impactos que eles podem sofrer, por conta dos instrumentos e investimentos feitos ao longo dos anos”, observa o secretário.
O secretário destaca outro aspecto importante na modernização da Defesa Civil estadual: a mudança de cultura. “Hoje é uma estrutura de primeiro escalão de governo, mas além da resposta para eventos climáticos é muito mais voltada para prevenção como forma de proteção do catarinense. A Defesa Civil de Santa Catarina figura, atualmente, como uma das principais, se não a principal estrutura de Proteção e Defesa Civil no Brasil’, afirma o coronel Fabiano de Souza.